Dieta autoimune na prática 2 – Quando é preciso ir além
As doenças autoimunes, como todas as doenças em geral, apresentam um amplo espectro de gravidade. Elas podem se apresentar como uma urticária leve até uma que desencadeie choque anafilático com risco de morte. Temos também doenças degenerativas graves como a esclerose múltipla, cuja frequência tem aumentado de forma muito expressiva e este adendo se baseia num dos protocolos mais respeitados para as doenças autoimunes, o “Protocolo Wahls TM” ( marca registrada pela Dra.Terry Wahls LLC ):
A Dra.Terry Wahls foi diagnosticada em 2000 com esclerose múltipla e apresentou um declínio rápido de saúde à despeito dos tratamentos convencionais de ponta e em 2004 necessitava de uma cadeira de rodas para se locomover. Sua doença encontrava-se no chamado estágio secundário de esclerose múltipla progressiva.
Em 2007, com 52 anos iniciou uma busca por alternativas de tratamento e possibilidades de cura e através de auto-experimentação e muita pesquisa elaborou um plano de vida que trouxe sua saúde de volta e, melhor, conseguiu que diversas outras pessoas, sofrendo de condições semelhantes, conseguissem reproduzir o seu sucesso. Além da dieta, o protocolo apresenta algumas outras orientações de suplementos, exercícios ativos e passivos, eletromioestimulação e outros elementos. Para aprofundar-se no tema sugiro a leitura do livro da mesma autora:The Wahls Protocol: A Radical New Way to Treat All Chronic Autoimmune Conditions Using Paleo Principles
Seu objetivo é maximizar vitaminas, minerais, antioxidantes e gorduras essenciais que seu cérebro e mitocôndrias necessitam para o ótimo desempenho, além de ser a dieta desenhada para os nossos genes.
São três níveis de orientações, dependendo da gravidade da doença.
Vamos às orientações para o protocolo nível 1, “Dieta Wahls”:
1. Vegetais e frutas ( 6-9 xícaras/dia )
-Três xícaras de folhas verdes cruas ou cozidas, quando mais verde-escuras melhor ( acelga, alface, couve, repolho)
-Três xícaras de vegetais coloridos e frutas pobres em açúcar ( frutas vermelhas e azuis,tomate, beterraba, cenoura, abóbora )
-Três xícaras de vegetais ricos em enxofre ( repolho, brócoli, aspargos,nabo, cebola, alho, couve de bruxelas, rabanete )
Para quem não tem o hábito de ingerir muitas fibras, talvez seja necessário iniciar com uma quantidade menor de porções até atingir o ideal necessário para receber a quantidade correta de nutrientes.
2. Retirar o glúten e os laticínios
Tão importante quanto introduzir alimentos densos e nutritivos é retirar os alimentos que possam provocar reações inoportunas. É muito frequente a concomitância de intestino permeável e doença autoimune onde o glúten e os laticínios são particularmente nocivos, já que as proteínas destes (glúten e caseína) ultrapassam a barreira intestinal, que está permeável e entram na corrente sanguínea causando reação do sistema imunológico.
Estima-se que 20 a 30% da população com ancestrais europeus possuam os genes DQ2 e DQ8, que os colocam em risco para o desenvolvimento de sensibilidade ao glúten que, ao ser liberado na corrente sanguínea pelo intestino permeável seria o gatilho para a inapropriada resposta imune.
Uma hiper-reatividade do sistema imune pode estimular a sensibilidade a outros alimentos, como as nozes, frutas cítricas, morangos ou outros vegetais e frutas. A dificuldade para retirar estes alimentos da nossa dieta está associada tanto ao aspecto de conforto quanto ao seu efeito aditivo por ação nos receptores opiáceos do cérebro.
3. Ingerir proteínas de alta qualidade : este é o terceiro elemento crucial deste protocolo. Esta proteína deve ser de origem de animais criados a pasto, carnes de caça, miúdos e peixes selvagens, preferencialmente orgânicos e locais. Ela recomenda de forma muito incisiva a necessidade da ingestão deste tipo de alimento para que haja a disponibilidade de nutrientes essenciais.
Por que esta não é apenas mais uma dieta paleo:
– Todos os níveis da dieta Wahls apresentam ênfase na densidade nutricional e intensifica a ingesta do volume de vegetais e frutas.
– Maior ênfase na ingestão de gorduras: com o objetivo de otimizar a qualidade da mielina e estimular as conexões cerebrais.
– Estimula o uso de alimentos locais e sazonais devido à qualidade e conhecimento da origem.
– Retirada total de glúten, laticínios, ovos e pouquíssimas leguminosas : já falamos sobre os dois primeiros.Quanto aos ovos é devido à sensibilidade individual da autora, que recomenda que sejam inicialmente retirados até que se estabeleça uma melhora dos sintomas, só então reintroduzindo-os e testando a própria sensibilidade. As leguminosas contém antinutrientes que podem ativar gatilhos autoimunes.
Uma breve nota sobre os níveis 2 ( dieta Walhs paleo ) e 3 ( Walhs paleo plus ): ambos incluem as mesmas especificações da dieta Wahls e restringem alguns dos alimentos permitidos no nível 1. Permite apenas duas porções semanais de leguminosas e batatas ou até as elimina completamente, adiciona algas e miúdos e introduz alimentos fermentados, sementes germinadas e mais alimentos crus, inclusive proteína animal como sushi, steak tartare e ceviche.
O nível 3 é mais restritivo, é extremamente baixa em carboidratos, alta em gorduras saudáveis, muito semelhante à dieta cetogênica. Exclui alimentos com amido ( todos) e introduz óleo de coco e leite de coco integral. Sugere o jejum intermitente rotineiramente.
A transição para estas dietas deve ocorrer de forma natural e, em alguns casos, gradual. Quando já existe um prejuízo na qualidade de vida devido à doença incapacitante, a retirada de alimentos que dão conforto pode causar sofrimento e sensação ainda maior de perda. À medida que ocorre uma melhora dos sintomas e da energia, as pessoas tendem a querer evoluir nas suas escolhas pois percebem o resultado positivo real e a percepção que o esforço realmente vale a pena.
Esta dieta afasta os alimentos tóxicos, e potencializa nosso organismo com vitaminas, minerais, antioxidantes e gorduras essenciais. O foco é melhorar nosso cérebro e mitocôndrias, favorecendo um ótimo desempenho, e revertendo ou reduzindo os danos das doenças autoimunes.
Como a dieta original que viemos propondo é também desenhada para o melhor funcionamento de nossos genes.
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3 Comentários
Bom Artigo
Boa noite. Gostaria de saber se é permitida a ingestão de chás e café no protocolo Whals.
Adorei o artigo. Obrigada.
Olá, Daniela.
Sim. Chá e café são permitidos, dentro das sensibilidades individuais, claro.
Quando se trata de autoimunidade, é ainda mais importante cuidar a procedência dos alimentos e que, preferencialmente, sejam orgânicos e livres de aditivos.
Quando compramos chás em sachês, eles podem vir aromatizados e com aditivos químicos. O mesmo vale para cafés instantâneos.
Lembre-se de sempre ler os rótulos, se tiver aditivos químicos, evite.
Obrigada pela colaboração, esperamos ter sido úteis.